segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Aquela é a Rebouças? ou a Brasil?



É lindo, é tão meu. As vezes se sente em dívida e eu não posso distinguir o que é real, de o que é uma maneira de ser forte, e dizer sinto muito, mas não posso. Uma amiga minha, a do dedinho, deve saber, que é bom, mas desculpa, não posso. Como da primeira não podia, como da segunda não podia, mas permitia, inútil, como uma senhora que é assaltada na Rua Augusta e tão pouco pode fazer. Cadê o Deus? Quando viajar para São Paulo, lembre-se de não economizar a última Amitriptilina, pois demora uma eternidade, quando o que resta é senão dar sentido à eternidade, e olhar para os lados. Um grito no asfalto, na faixa de pedestres, na última esquina, um tiro me atinge o corpo imóvel, mas não caio, resisto, como a bailarina, como a moça do tango, como os caminhões de lixo subindo delicadamente a avenida, como toda vida numa espécie de súplica: não cai, não cai, só mais esta vez não cai! Era perfeito, o crime, e de cada uma dessas janelas sobre a Avenida Paulista, cada pedacinho de desejo, cada janta sobre as mesas, cada luz acesa, me vigia no perfeito crime antes de dizer adeus. Só me promete uma coisa, que se eu falar que é “especial” é porque realmente é muito especial. Só me promete. O tiro atrevessa o corpo, nem deixar dano. Era você, a mesma estrela, o mesmo cavaleiro de Athena, o mesmo olhar sóbrio. Sinto muito mas não posso fazer nada nosso, primeiramente por que o que é nosso, não pertence só a mim, não cabe a mim. Que me cabe olhar o Tietê, os sujos, os que se escondem do grande palco, me cabe olhar James Dean e Elisabeth Taylor, me cabe ser uma criança como tantas outras crianças. Eu me esqueci, fiquei nervoso, mas passou, porque ainda era eu, nem cai. A gente, hora-mais-hora-menos, tem que aprender a não cair. É como o dragão, o portal. Ficaríamos frente a frente toda uma noite trocando os verbos, coloridos, quando que nem era preciso dizer, era apenas sentir, cada lábio, cada mão, não, talvez fosse melhor esquecer. Até porque as pessoas trabalham, e fazem guerras, e matam criancinhas e destroem uma porrada de coisa bonita. Eu tinha certeza. Comemos ali na calçada, reproduzindo os que tão pouco comem, mas éramos também reis e rainhas, princípes e princesa do nosso pequeno carnaval. Quando a grama ainda era verde, tinhamos ótimas idéias e planos e sonhos e tantas cores bonitas. Voltamos, com o mesmo propósito que fomos: chegar. Reconhecendo, humilde, que a chegada também é adeus. Outra amiga, a aquariana, deu me carona. São Paulo nem percebeu nossa visita, nem deixamos rastros, ou mordidas. Sentimos teu cheiro, tua voz, teu apito.

20/9/11