sexta-feira, 9 de julho de 2010

at L... ku re nost g' si veni vord in omi zu....

TIME AND YOU (TEMPO E VOCÊ)

hey, we are walking to oldness
i'm sorry if I can't stay at your corners, every day
i'm sorry if I can't come along with you in your travels, every way
all things are like a tale of fairy
sometimes i think that you will never marry
after i remember that you are a one
like any other...
and so i remember that i've loved you
like no other
you were used to say me that i need to open my heart...
but now i say you that it's open...
and it's still hurts

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Omor g' kant. Niet p' si g' yo

Alguma coisa treme em mim essa noite. Não sei se é frio, se é medo, se é ansiedade. Treme. A mão não pára, a boca acompanha, o coração dispara e a mente corre feito um trem bala. O gato mia. Você é minha maior decepção. Você não consegue entender que o que eu quero ultrapassa o que eu quero. No fundo a gente sabe o que acontece. A gente esquece, mas tá ali, feito um câncer, crescendo e crescendo e de repente aparece, gravado, estendido. As mãos não pararam, e uma lágrima quer vir, mas não virá ou virá pra não vir feito câncer. Deixar fluir é permitir ir embora. Não dá pra atravessar esse rio, com essa moça se olhando no espelho. O pior é que é.

Kus iljw ke rere, kus imi p' rere abnt, m' voil etes no. Sten ko pir. Illa m' yo. Te ko jos...
M' no ko niet omor at si, kut m' p' kosi ko g' ka plu or at m' vu wblis. M' mistake p' etes. Viet-l' kler m ak si ab: OMOR G' AB IL VIRG VANT AT M'.

sábado, 5 de junho de 2010

Por Gaia!



J, nós passamos na esfera azul, podemos correr livres agora. Não sorria para mim, eu já te disse pra não sorrir. A esfera me prende, porque te prende. Não quero mais te ver, teu corpo em mim nunca cicatriza. A esfera azul, nos teus olhos de cão bom. Alcancemos o máximo que as estrelas nos permitir, peço que o motorista desça, eu quero guiar o carro da minha vida, meu mundo cor de água, teu sangue é mais liquido que tua saliva. Quatro letras, as certas, me fariam voltar, me fariam desligar o motor e apagar os faróis. Ouço terra, ouça comigo... Não sorria nem diga meu nome... Você sabe como eu fiquei chateado aquela noite, mas eu acabei entendendo tudo aquilo como um jeito d’eu dizer tudo que eu mais queria... ou você dizer: "Se a gente inverter um som japonês, as notas se transformam em gritos e pássaros e morcegos..."

sábado, 29 de maio de 2010

As cores que vovó deixou



Tenho sentido falta duma amizade antiga. Onde os amigos não se doem, nem se machucam. E que abrem portas, entrem, tomem o seco do vinho e enquanto falam com seus cigarros, secos também, inspirem e expirem as dores de sempre. Na tina, vovó lavou a roupa que mamãe vestiu quando foi batizada, mas isso é coisa da antiga.

Não. Foi um engano. Vovó não morreu, desenterraram-na ontem, estava magrinha e suas mãos cheiravam terra. Mas era uma terra verde, sem aquele cheiro do que já foi embora, sentada na sala, com seu peso ancestral, parecia um Orixá Africano, talvez Ogum, talvez Iemanjá. Parecia uma pomba, inteira na calçada, enquanto sorri, apenas espera migalhas de pão. De repente, não há mais por que cruzar os braços, ou esticar as veias do pescoço, ou sentar feito moça: o medo se perdera por aí, os amigos também. Vovó estava sentada no meio da sala, c’um sorriso besta que parecia dizer: “Vocês não sabem nada, meus filhos”. Eu duvidava, enquanto agarra sua magreza, como quem devora o último pedaço de pudim, toda vestida d’um suferino da melhor fêmea que a vida fêz, que variava entre o azul do mar, e o vermelho da guerra.
Unesp estava cheia nesse sábado morno, era uma espécie de festa que perdura por horas, uma espécie de história com vários capítulos. Subi de carro, até a faculdade. E as pessoas bebiam e comiam e se falavam, enroscadas a bicicletas, motos barulhentas e saias de hippie bailando sobre o asfalto. Eu quereria me enroscar também, talvez encontre essa coisa que se perdeu, mas que inda cheira verde. Um amigo me tocara o braço, disse lhe que as coisas vão bem, contei-lhe que estava feliz, enquanto secava a caneta, me sorria feito um bobo, e falava que suas coisas caminhavam também. Ele não queria seguir, mas parece que procurava alguma coisa que é viva e se perdeu, é que no meio da mata, todos nós somos solitários. Compreendi, tenho compreendido quase tudo, aprendendo a inverter os pólos olhei pro céu, prometia chuva, chuva grossa, pra acalmar essa brancura tensa que se instalara do céu. Não gosto da palavra firmamento, me lembra uma coisa firme, segura, estável, talvez a um azul celeste caiba firmamento, mas um branco que se move, uma gira de cores que se confundem, prefiro o nome céu. Acendi um cigarro e sentei num banco de cimento, a espera que um vento novo me arraste pr’outro canto.
Mayara, a caçula, fora com Papai ao supermercado. As filas se esticavam até as prateleiras, e as moças do caixa batiam as teclas acostumadas enquanto secavam o suor do meio dia. O pai devia estar a procura de um bom azeite, era preciso regar nosso peito, com bom azeite: protege o coração e impermeabiliza as terras virgens e verdes. A caçula passeava pelos congelados, e avistava meio tonta, as carnes petrificadas e roxas encurraladas num saco á vácuo. Era insuportável. Sacaram, os dois, uma caixinha de dúzia de ovos, levariam pequenos úteros, que se secaram, e se colocava azeitonas e pedaços de queijo e presunto, regando tudo com o bom azeite e comeríamos as doces omeletes de sábado. Não levaram a carne petrificada, hoje não. E enquanto o gelo branco dos congeladores se confundia com a brancura do céu, um calor se prendia. O pai e a caçula, aguardavam com sua cesta, a moça do caixa, que batia teclas repetidas e secava o suor da testa.
Margot, a mais velha, veio de São Carlos num instante, como quem, quando menina, passeia por jardins à busca da rosa mais perfeita, rosa suferina. Mas não as colhia. A mais velha, não cresceu muito. Se concentrava na sua miudeza e preferia também as flores miúdas. Mamãe fica tão bem de branco, não se parece com gelo, nem com o céu de sábado. É um branco calmo, que se movimenta, que se permite ir e vir, um branco que se transforma, feito as paredes d’um hospital, onde a vida chega e se transforma. Mamãe buscara a mais velha na rodoviária, de algum jeito. Mas antes de casa, iriam ao centro, ver o que as lojas de jeans guardavam, talvez um tênis novo, de cor-de-rosa. Tomariam sorvete americano ou uma vitamina de morango, do Rei das Frutas, que mamãe gosta tanto, um morango suferino.
A noite que caía mais cedo, nesse sábado de chuva prometida, invertera os pólos do céu, e aquele branco denso deu lugar ao infinito negro da noite. Todos chegamos praticamente juntos: Eu c’uma folhinha de arruda presa no canto alto da orelha, feito um romano, que vem da guerra; papai e caçula com sacolas de omelete e pontuações de Futebol; mamãe e a mais velha, calçando um amontoado de plásticos, molas e tecidos subiam as acostumadas ruas enquanto secavam o suor das testas. Vovó pediu um pouco d’água e um copo que transborde guaraná, sentada no meio da sala c’um sorriso que parecia dizer: “Vocês não sabem de nada, meus filhos”. Nisso papai já batia os ovos, com azeitona, bacon, dando formato a omelete, a caçula discara no telefone teclas repetidas, enquanto secava o suor da testa. Eu estava ali, bem num canto da cozinha, na minha solidão verde, quando indaguei a mais velha se havia muita gente no Centro. Ela veio perto, com seu tênis que rangia no piso. Mas não havia ninguém: “Nem no Boca Loka, tinha gente”. Compreendi, tenho compreendido quase tudo, e sei que essa coisa que inda é verde, mas se perdeu, deve estar num canto suferino, que varia do azul do mar, ao vermelho da guerra.

domingo, 23 de maio de 2010

Poltrona nº 5 - Janela


“E o amor foi entendendo assim, que não era amor. Estava amor”

Não teria por onde ficar senão junto a ele, de resto não conhecia ninguém. Insisti, sem lembrar, que ele não é de ninguém. Fomos viajar. Todos o tinham, enquanto eu sonhava um mundo onde não houvesse ninguém, ou que ainda que houvesse, ninguém pudesse nos ver, e que visse não achasse graça. E enquanto sonhava, controlava meus lábios que queriam sorrir, mas só podiam sorrir no sonho, afinal alguém perceberia. Não que o problema fosse alguém perceber, o difícil seria explicar, a quem percebesse, o que não me foi explicado, explicar que apenas amamos e sonhamos com um amor que não sonha conosco, e que sabemos, no fundo, que esse amor também sonha conosco, talvez em nível inconsciente, e então, teria que lembrar das aulas de Jung, e não haveria resposta, e ainda, se perguntassem: “há algum problema?”, diria que não. Não há problemas com amor, não nesse estágio, onde tudo está declarado, mas não obtivemos resposta, um malote do correio que se extraviou por aí. Acontece que tudo isso é feito um dente cariado: quanto mais se toca, se mexe, se cutuca, mais dói e ao mesmo tempo é irresistível não tocar, não mexer, porque no fundo alguma coisa já dói.

As luzes do ônibus acenderam. O grande problema dos ônibus, além do banheiro, é os assentos serem colocados em forma de casal. Nem todos somos casais, e nem o formato implica que devemos ser. Porém acontece que se não somos, ou sentamos sozinhos, se não estiver cheio, ou alguém senta do nosso lado e então se fica a ouvir música, a ler, ou a vigiar quem realmente interessa. Contudo algo me diz que o problema não são os ônibus. Sentei junto a ele, não somos um casal, mas é preciso ter compaixão, afinal até eu que escolhera e torcera por estar sentado assim, ao lado dele, não sei o que dizer, só sei que esse silêncio estranho que fica entre nós tem um som de mosca rondando um bife, um gigantesco ponto de interrogação parado no meio da rodovia às oito horas da noite. Haveria de se conversar o que já se sabia um do outro, para não correr o risco de entrar num campo desconhecido, onde perguntas, de certo ficariam sem resposta, ou então, inventar um cansaço e dormir enquanto o ônibus, no seu doce balançar segue viagem. É sempre seguro sentar à janela, qualquer distração, ou falta de interesse e jeito pode ser justificado por apenas estar vendo a paisagem ou a lua. A lua hoje está exatamente cortada a sua metade, nem cheia, nem nova, mas procurando talvez no seu ciclo vital onde ficara seu par. “A metade que falta virá”, eu disse sem perceber que dizia. “O que? Que metade?”, eu sorri. Talvez a metade não virá de ponto algum, porque, na verdade, ela já está, ainda não se mostrou, ainda não foi preciso chorar, nem de dor, nem de alegria, como um malote do correio que extraviou e talvez chegue e como um dente, que sem mexer, já dói, mas ainda não precisa de dentista.

O ônibus parou bruscamente. A algazarra tomara conta: “Será que foi um acidente?”, “Acho que é bicho, na pista”. Talvez fosse um acidente, ou um bicho na pista, o fato é que no parar brusco do ônibus alguma coisa brusca, em nós, também parou. De repente estávamos, olhando, ainda que por um breve momento, um no olho do outro, com uma avidez profunda, como se naquele instante pudéssemos nos render, esquecer os medos, as escolhas, os ideais, e simplesmente amar, sem gesto, ou fala, ou beijo, ou qualquer outro carinho. E então lembramos que há a morte. É bom que haja a morte, para que a lua encontre seu par, para que os olhos se encontrem, para que lembremos que, como há a morte, também há a vida e que medos, escolhas, ideais são como roupas que nos protegem da aridez deste vento frio de inverno, mas que delas, nada levamos. “O amor não tem roupas, máscaras, nem chapéu”, eu disse. Ele sorriu, mas fingi que via o que se passava pela janela. Sentei à janela, sempre sento à janela, é mais seguro. Não era bicho, nem acidente, era só uma fila de carros que se congestionavam e ferviam ansiosos. E o ônibus voltou aos poucos ao seu estado: balançando leve, pessoas lendo, ouvindo músicas, conversando o que já se sabe e querendo descer para tomar café, comer pão de queijo, fumar um cigarro... Até que chegara um ponto em que quase todos adormeceram, enrolados em cobertores, afogados em colos alheios, apenas algumas luzinhas continuavam acesas, despertas pela insônia e a ansiedade de se chegar. Ele havia adormecido e agora eu poderia observar bem de perto aquele rosto, que nunca tivera coragem de encarar, não poderia ver os olhos, já que estavam fechados, mas na freada brusca do ônibus, o olhar dele já estava em mim, bastava, então era medir cada centímetro daquela pele marcada por pontos minúsculos, dos pelos rasos que insistiam em crescer pela borda, do cheiro sem gosto que vinha da nuca e era só dele. Era um rosto comum, não tinha nada de diferente e era que isso que mais me intrigava, quando encostei de volta a cabeça no assento fiquei pensando: “Talvez o sorriso, talvez tenha me apaixonado pelo sorriso”. Olhando de volta para a janela vi a lua, mais branca ainda, perdida no espaço, rodeada de estrelas, lembrei de um frio antigo, um frio gostoso que a gente sente quando é criança, um frio que tem gosto de sopa, de chocolate quente, gosto de abraço de mãe. E embora as janelas fossem fechadas, fazia frio, queria cobri-lo, proteger como um abraço, mas sentei à janela. Ele ao corredor, podia pegar a coberta, eu se levantasse estragava esse friozinho, feito aquela dor de dente. Não vou mexer. Nem posso te tocar, ao menos que fosse sem querer e a gente sempre encontra um jeito de fazer as coisas, para que pareçam por acaso. Minha mão bem perto da tua, o assento em posição de repouso, o balançar do ônibus, a mosca, o dente, a lua, o correio, o friozinho gostoso da infância foram seguindo pr’um túnel de concreto todo iluminado até que eu adormeci.
Sexta-Feira, 21 de Maio de 2010