Esse dia foi estranho. Embora tivesse nada desses dias estranhos: não chovera, ou ventara, ou fizera frio. Talvez chovia e ventava dentro de meu peito inquieto. O que aconteceu? Eu não aprendi a lição: ouça-te! Não me ouvi, sentia, mas não deixava me contaminar. Embora eu soubesse pela primeira o que devia fazer.
Já passava das 4 da manhã, e nós continuávamos lá. Naquela conversa política que nunca acaba, um marxista tentando justificar o mundo economicamente, e eu dizendo que os pobres também se apaixonam. Os mendigos também se apaixonam. E eu explicando que é preciso estar nas fronteiras, que é preciso partir de onde estamos, não se pode consertar o mundo.
A loucura me persegue. O marxista riu, e logo voltou para seu habitual respeito às classes menos favorecidas. Sugeriu, audaciosamente, que falássemos por 5 minutos cada, quando eu já não queria mais falar, quando eu já confundia foucault’s, e não podia lembrar deleuzes, sugeriu sistematizar nosso breve encontro.
Até aqui, posso ver, como num clip da MTV, os meninos dançavam e pulavam e caçavam, enquanto eu estivera aqui fora, de pé, contando vantagem, falando coisas que eu mesmo não compreendia. Até que veio o desafio: “Se acha que tua subjetividade está alheia às relações mercadológicas da sociedade, tira tua roupa, fica nu!” – não houve tempo para resposta, ele tirou a blusa de algodão, e disse: “sentiu alguma coisa?”, e então tirou a camiseta: “e agora?”
E agora? Que ótima pergunta... e agora, sei que nada sei. A madrugada era fria e ventava, aquele corpo ria, sem roupa, sem graça. Procurei por um cigarro, mas era tarde, ja não haviam cigarros. Era inevitável olhar, era inevitável saber o que minha intuição me dizia. Era branco e sorria, a pele brilhava sobre as lentes da floresta.
Durou pouco, como duraram os becks e os drinks. Voltou a vestir-se, apelei para a Linguagem, a Psicologia, a todas as coisas que não podem dizer. Não me poderiam dizer, o que o tumultuava o mundo às vésperas das 5 da matina, do primeiro grito, do galo. Meu corpo quis falar, mas se calou.
O que mais me encomodou neste sábado sonso, nem quente, nem frio, foi que as coisas continuaram, me atravessaram e deixaram buraquinhos no meu corpo, uma indizível confusão.
Mudamos de lugar, em busca de um cigarro, agora era nós dois e uma multidão, era a fronteira e o centro. O jogo sórdido continuou, ele tira novamente a blusa e a camisera, e sorriu. Queria respostas minhas, minhas ausências, mas continuei estático. Ele se aproximou e me abraçou forte, e disse: “O que você acha que estão pensando?” e sorriu e disse “O que você está pensando?”.
Eu realmente não sei, ainda hoje, nesse sábado estranho, embora inteiramente sonso, eu não sei. Talvez porque o importante é ver o mundo e depois ir embora, que as redes se conectam. E essa é a maravilha do mundo, um segundo, e os segundos se vão.
Quieto, eu encontrei meus amigos, que acabavam de dançar, quietos. Era como se nessa noite tivéssemos encontrado algum tipo de verdade, algum motivo pra acordar nesse sábado sonso e dizer “sou feliz”.
sábado, 27 de agosto de 2011
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