domingo, 17 de fevereiro de 2013

Otti Petrj

O importante é que você me povoa e o tempo voa e as raízes de misturam à terra, mas continua na pedra alta luz, eu de cabeça para baixo, você coração vagando, marcando a mandala em cada praia. A tua perfeita união que nego em nome da perfeição, mãos de homem, mãos de artesão que elaboram mosaicos, na terra o broto brota, os dedos enterram outras sementes. Na aura o fogo que ofusca, brilho de um sangue escuro que ofende, bate de frente, tua guia. Veja o ar que respiramos, você bailando em alfa, brigas, pirraças, brincadeiras apolíneas. Ao tombo do mar, você pisando nas pedras, pés de peixe que as águas brindam, refrescam o instinto. Doce sozinho, sentado no banco à frente do bambuzal fumando o último cigarro. Hálito, boca e cabelo, tê-lo inteiro sob o sol, o campo por todos os lados, fumaça cruzada, que adianta a espada se o destino escapa, foge e atravessa a rua e você sem roupa, pelado no sofá. Ou a morte ou o veneno. Teu pequeno em muitos lugares, todos sem nome.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

hy, l'tehank gof

- il sera il gof bos, ayor ya arko-plu, il viro, aux l’dorima a fregiten, de ki ankor ak’il herk ki x’pe rokum, ki x’pe kaivenum ek yum on fre yu. Il se soiernif a kaegrafu ye il goa du marju-vix, il eg il jeria waf, il pinde marlboro light, il jale kreum-iko, bogum il kinu ay nix duato, il sena on ko ma vi ommi.
- l’iler-om ko m’eg le bogu, yr’yu ko ma kosyra k’il se il gof a mav; de ma syra troyu, y nis ar k’unx sekont a prijum kounte il bos se. Orko nu n’ahete, blefu a elli ki x’briura ye l’gale, nu n’ed asunt ye il torkia, a statum a pindu ek a paru op l’viet. Il eg mi remaru axu figen, k’eg dixu ko axui pief sera il viro tehank, ki ayilom axui pief eg briu l’igabox k’eg taku l’gog a gof ammi op l’igi. Il eg il mark, joera ommi, m’eg statu gonvu.
- ma kosyra m’ako – ya kaivenu – m’eg nis karum akke gof...

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

ressaca

a onda vai, a onda vem
vida irônica
vida irônica
lua alegre rindo de mim
a onda

onda, pra onde me leva?
as coisas chegam calmas
mas a gente só percebe quando elas estão em ebulição
onda calma, na areia, de lua
no disco riscado do meu coração
toca sempre esta mesma música
cadê a onda pra molhar os pés com frio?

cadê o marinheiro? a onda levou...
cadê o capitão? a onda já foi...

bebe água salgada de qualquer saudade
na beira-mar te esqueço
a onda não vem, a onda já foi
balança o mar inquieto
e eu de encontro
a onda não vem, a onda se foi

quarta-feira, 18 de abril de 2012

No arco do anjo

é o acontecimento que interessa. ninguém precisa ver os índios e os negros porque é dia do índio ou d’abolição da escravidão. quando o índio e o negro sou eu e você, quando nos perdemos no parque, no perfume desta primeira flor em tua mesa, a primeira a cheirar a alguma coisa, confesso. bem, nunca me interessaram as coisas que funcionam, eu queria era fazer funcionar, descodificar e codificar novas possibilidades. teus pés na areia menino, na beirada da praia, quer se ver teu sorriso mais bruto, teu devir-homem estampado em cores. abraços aos poetas que não respeitam a métrica, respeitando a métrica. você não lembrará de mim daqui algumas horas e eu que queria te ver crescer. sê feliz tá.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

PRIMEIRA OVERDOSE

«Os sete anjos que tinham os setes flagelos saíram do templo, vestidos de linho puro e resplandescente, cingidos ao peito com cintos de ouro. Um dos quatro Animais deu-lhes então sete taças de ouro, cheias da ira de Deus que vive pelos séculos dos séculos. Encheu-se o templo de fumaça provinda da glória de Deus e do seu poder. E ninguém podia entrar enquanto não se consumassem os sete flagelos dos sete anjos.» Apoc. 15,6

alguma coisa parece escapar, você entendeu e fingiu não entender – sob essa noite cheia de estrelas, os teus vermelhos olhos refletem o mistério das estrelas. Quem sou eu ou onde está meu amor agora, seriam perguntas inacetáveis, irrespondíveis. Porque embora noite, embora ventasse algo borbulhava em calor, a água fluia da pele seca de quem ama e as tuas mãos não cabiam nas tuas mãos. Hoje eu ajoelho sobre o milho seco, e me perco em alguma ausência, pois assim, poderei lhe dar o que quiseres e lhe darei também três chaves, em três formas – uma porta está ao sul, outra ao leste, outra ao oeste.
e não era só isso, se lhe perguntassem o porquê de teu nome, diria que teu pai inventara, em algum lapso de loucura, diria cinco letras. Diria que não é mais possível saber o porquê, dobraria a face em fuga. Só queria saber de ti uma maneira de começar o dia, como num verso antigo. Por que não dizer o que a alma cogita? Por que fantasiar teus olhos caídos? Pra que esconder as labaredas da escuridão? Diria que não era possível e que a água não tornar-se-ia vinho, mas da minha fé, da mais secreta fé, eu podia saber e desejava calmo correr pelos teus campos todas as manhãs.
quando não, ela sabia, melhor que ninguém, o que se perdia o que se ganhava, estava por dentro do jogo, numa matemática sóbria, mas era também porque não estava sozinha, aquele mesmo anjo que a maltrava, a puxava de volta, a lambia. Uma cadela em pleno cio, atravessava a rua, e a dona já meio virada do álcool sussurava alguma coisa, que aqui ninguém podia ouvir. Mas era aqui, era aqui que eu quereria estar, era de reencostar minha cabeça nos teus ombros ávidos que eu falava.
eu podia te prometer, teu pai não iria mais te machucar, eu limparia teus olhos, com todo o cuidado para não borrar tuas chamas, para não apagar o fogo, eu te faria brilhar de novo, como o sol dessa manhã procurando espaço juntos às nuvens. Será que bastaria qu’eu lhe contasse mais um sonho burguês? Você soltaria os cachorros, ainda que soltar os cachorros significasse abandonar o teu pai, significasse correr pela rua, atrás dos cachorros, significasse antes de tudo morder, rosnar, deixar o ódio tomar o corpo. A lua viria? Esta noite tem tantas estrelas, está falhada, sem lua, da mesma vergonha de uma moça sem maquiagem, era essa noite. E os cães uivariam pra que prometida lua, se então ela não vinha?
e era cheiro de ódio, de um ódio seco, ainda infantil – um ser que desconhece os pantânos, dos quais me afundo e te afundas, era seco o ódio que não podia ser chorado, que não podia ser sentido em teu grau máximo. Pediu ao Deus que o ódio durasse, não passasse, que fosse possível tornar tudo isso material, quando houvesse tempo e que a loucura, fosse realmente dessa vez, apenas loucura.
pra que continuavas a te enganar? parecia ser tão difícil dizer “não consigo”, que era preciso estar sempre remontando o castelo na areia, que o vento, o vento insistia em levar, breve, dando outras curvas, demolindo os sonhos. Talvez fosse melhor que parasse por aqui, não posso enxergar, desta noite, nada além do mar, quase sem maré, recolhido para poder refletir, para poder se curar. Me lembro do teu cheiro, mar, gravado em conchas, aprisionados na matéria do tempo – pois quantos homens já morreram em teus braços e quantos ainda arqueavam viris braços à tua procura – ouço teu grito soberano pelo buraco da concha moldada.
porque subitamente me acertaria com teu machado, e meu sangue não era apenas sangue, mas era a tinta sólida com a qual gravarias a tua vitória. Me parece que a águia ainda não aprendeu a lição, e o Deus não perdoaria essa liberdade, pois até para se voar é preciso pedir licensa ao vento. E d’outro lado, a tartaruga imóvel teria encontrado algo tão grande, algo tão poderoso, que nessa estação ia se recolher, confiante da sua dura natureza – talvez chovesse ainda – mas a menina parecia não acreditar, ou talvez nem pudesse, era da tartaruga imóvel em sua renúncia que lhe o brotava o mais nobre sentimento humano: a humildade, porque era também da terra, dessa areia meio úmida, era da própria mãe que falávamos.
e se ela voltasse, como poderíamos dizer não quando se quer dizer sim, e porque ainda assim, não passariámos a delicada fronteira plasmática que nos envolve, me encantaria entender por que temos sido tão rebeldes, por que puxamos a carne com tanta força.
mas eu sei porque destes risada, é que nossa riqueza é tão frágil.E era por cercar os terrenos que não eram nossos, era porque faziam das praças, públicas, sem ao menos ouvir o que aquela senhora tinha a dizer, sem saber que ela se sentia culpada de gerar e abandonar aquela criança. Não são tuas calças rasgadas, nem teu canivete, era d’esse teu olho que pede perdão, você daria tudo para estar longe do sol, desse sol que queima, queima, queima. Mas me abraça, faz de conta que eu te perdoei, para você poder se perdoar, quem sabe perdoar à Deus. Quero ver-te bem, quero vê-lo bem, vestidos de branco – sem câmera, sem juiz.
fico feliz de saber que não estais sozinha, ela estará do teu lado, e não te obrigará que preenchas a ausência, mas que ausente, preenchas a beleza do mundo. Dói tanto pra ela, guri, dói pra ela te ver de branco, e pensar que ainda assim há um sorriso na tua boca, dói pra ela saber que daqui a pouco ela vai esquecer teu rosto, como esqueci, para subitamente lembrar quando mais possível – foste mais humana que mãe.
dessa dúvida não viveria, esse ar fresquinho de manhã brotando, agora anuncia o fim do julgamento. O outro sol viria, talvez nem completasse a tarde e era por isso que talvez corríamos tanto, era preciso deixar ao mundo uma reposta, ainda que não houvesse testemunha, era para que a alma levasse consigo os amores, os gozos.
e era preciso ter muita coragem para se ser louco, fugir não é mais fácil, nem mais difícil que enfrentar. Oh doce águia voltarás? eu corto as unhas em respeito a teu corpo ferido, e quando voltares, eu cuido de tuas asas.
espero viver o tempo bastante para esquecê-lo, não suportaria uma morte que é também falta dele. Pois onde haveria plenitude, seu eu ‘inda o tivesse figurado na minha cabeça?
para além, compreendo que os gatos precisam de um gesto, de uma pequena certeza, nisso diferem dos cães, nisso diferem de ti. Cada vez tenho menos a te dizer, que parece também que cada vez menos você compreende; e ficar alimentando uma árvore seca em troca de alguns pinhões, que a cada ano que passava, vinham menos. Mas vou ficar novamente acordado aguardando o parto, aguardando a tempestade passar.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Teorema

Nada acontece,
A distância me protege
Mas o sangue liga
Cinco letras de teorema

Teu pai, o louco
Não, não houve tempo de saber
Ainda dói um pouco
para vasculhar
Teu túmulo intacto

Breve teorema
Te conto meu sonho burguês,
E guardo na memória
A tua risada

Toque três acordes
As energias, troque
Grite comigo
Ative teu lado animal

A altura é a distância
Vezes massa atômica
A altura capitalista

A negação é a constante
do teu teorema.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Il n'y a que toi!

as asas de meu cavalo estão feridas, devo ficar por este reino, mesmo, estou preso nessa casa branca, há tantos dias, estou com saudades, gigantescas, brutais, torturantes, mas antes, em um momento de salvação, pego o dicionário, cansado de tanto silêncio nada me seria melhor que ouvir uma palavra, que preencher algum sentido, mas por discuido acabo por abrir na letra dê. não que não goste de dês, a pessoa mais importante em minha vida tem como inicial o dê, dê é uma letra mágica, dê de desejo, dê de devir, dê de doce, dê de deus. o problema foram as palavras que encontrei, não era isso que eu procurava, me deparei com palavras que me dão nojo: democracia, direito, dever. toda essa dor política que os anjos protestavam, não seria possível seguir em dê, quem sabe eu encontraria outras tantas palavras triste. estou com dor de cabeça, comendo miojo e tomando ades. descubri nisso que o que me incomodava no silêncio, era exatamente o que me incomodava na palavra. que nada o dê tinha culpa, senão por grafar democracia, direitos e deveres, descobri que o que me incomodava neles é o gigantesco poder que eles tem. Quem detém a palavra, detém o poder e quanto ao silêncio, trata-se de uma impermeável camada do caos, onde somente as particulas escolhidas entram em osmose. chega.